Na vida há tempo para tudo. Tempo de aprender. Tempo de absorver. Tempo de aplicar. Tempo de mudar. Tempo de refazer. Tempo de pensar. Tempo de agir… Tempo. Ciclos que se repetem e se renovam – e impulsionam a vida.
Para ela, agora era tempo de refletir. Uma reflexão dolorida. Dolorida porque fora motivada por um estado de mudança. Dolorida porque exigia o revirar de entranhas e feridas abertas. Na busca pela cura, pelo estar bem, pela paz é preciso passar pela dor. Uma dor que vem do lembrar, do ouvir, do sentir, do buscar, do esperar… Um pássaro, o sol, a lua, um prédio, um carro, uma xícara, uma palavra, uma música… Tudo e nada podem ser o gatilho para a reflexão profunda e dolorida que se impõe. Da reflexão vem um balanço, que nem sempre pode ser dividido na dualidade do bom e do ruim, do positivo e do negativo, do certo e do errado.
Esse era seu momento de refletir. Mesmo antes desse tempo, ela havia entendido que a vida lhe trouxera muitas coisas boas e outras tantas e tantas ruins. Havia entendido que tudo aquilo era fruto de suas escolhas. Ninguém mais poderia ser responsabilizado por qualquer ínfimo detalhe de sua história. Tudo resultava de caminhos que ela própria havia decidido seguir. No emaranhado de fios do acaso, cada conseqüência positiva e negativa havia sido fruto de uma escolha sua, em algum momento – da cor do cabelo à revolta emocional, do ouvir os conselhos dos pais à rebeldia imposta pela vontade de se firmar. Cada passo havia contribuído para a construção do seu caráter, da sua personalidade e de todas as suas características. Não havia arrependimento.
Ela sabia disso. E essa isso lhe dava a tranquilidade de afirmar que não se arrependia de nada. Viveu o que havia para ser vivido. Sentiu o que havia para ser sentido, em cada momento, como resposta às escolhas que havia feito. Havia acertado e havia errado. Teve felicidade e teve dor. Sorriu e chorou, sem vergonha de seus sentimentos. Sem medo de mostrá-los e enfrentá-los.
Esse tempo de reflexão estava lhe mostrando algo especial. Não há certezas. Da segurança nasce a insegurança. Da mesmice nasce o novo. Do infundado surge o real. As mudanças aplicadas foram tão profundas que derrubaram paredes inteiras do castelo que havia sido construído. As fundações, firmes estruturas forjadas ao longo do tempo por sólidos valores construídos davam-lhe a esperança de que seria possível limpar a bagunça, fazer a faxina e reconstruir o castelo com novas paredes, em outras disposições.
Mas isso exige calma, tempo e paciência. É tempo de se fechar, embora quisesse se expor, falar, revelar, transformar, compartilhar… Perguntas sem resposta, porquês sem justificativas, medos e inseguranças fazem parte do processo, embora detestasse tudo isso. Reflexão gera aprendizado. Pelo menos entende que sairá deste processo mais forte, mais amadurecida e transformada pelos valores que houver aprendido.
Todo processo de mudança é dolorido. Dor que pode parecer insuportável, sem fim. Mas como está escrito: “não há uma folha que caia sem a permissão de Deus”. Tudo acontece para o nosso crescimento. Não sei se já ouviu, mas a águia, quando chega em uma certa idade, arranca todas as suas penas, seu bico e suas garras para se renovar. Um processo que exige força, coragem. Ela fica semanas sem se alimentar. Sofre com o frio, a dor, a aflição causada pela mudança. No fim, ela é uma ave nova, cheia de força, pronta para voar pelas colinas e campos.
Aproveite a mudança para, logo, poder voar livremente, renovada.
Te amo, amiga.
Adorei! Podriamos chama-lo “autorretrato”? Acredito que muitas leitoras se sentiram representadas neste belíssimo texto. Parabéns à autora. Novamente mostrou seu talento.
Espelho de minha vida! Realidade pura! Veja como hoje estou renovada, tal qual a águia que o Felipe comenta! Encontrei minha liberdade de ser feliz e posso dizer que vale a pena passar por tudo isso! A mudança não é algo que deve provocar medo, mas deve ensinar que o respeito por si mesma nos leva ao melhor processo de amadurecimento e de realização para amar, ser amada e gerar paz a todos aqueles que estão em nossas vidas!
Ontem, numa conversa despretensiosa via SMS, um amigo disse-me que estava com medo das mudanças. E eu, tão medrosa, o encorajei tanto a aceitar que as mudanças, por mais que doam e sejam contra a nossa vontade, sempre trazem coisas boas. Coisas que aprendemos com a vida. E ela vai aprender. Eu sei.